“Toca Raul!”, notícias do além de Raul Seixas

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“Meus amigos, o meu corpo já não pende no apartamento número 1003 do edifício Aliança no centrão de São Paulo. Despertei como um maluco beleza no dia em que para mim a Terra parou. Só me restando mesmo pegar as trouxas,colocar nas costas e ir embora na sombra sonora de um disco voador.

Perguntaram-me então:

– O que trazes contigo?

Eu respondi:

– Muita estrela e pouca constelação.

Aturdido em meio daquela confusão careta em que minha cabeça girava, pensei comigo: agora preciso ser aquela metamorfose ambulante.

Passagens de minha “longo-curta” trajetória visitavam minha mente. Pensei: e quando acabar o maluco sou eu.

E foi assim, me senti tocado por Deus, sem nenhuma demagogia religiosa. Percebi que os refletores que iluminavam o palco de minha passagem pela Terra apenas iluminaram meu ego. Compreendi que não haveria de ser feliz possuindo um corcel 73, ou mesmo um carro moderno como os de hoje, tudo dá no mesmo, nem adianta disfarçar e ir ao zoológico dar pipoca aos macacos.

Então, o bicho grilo pirou de vez: gritou alto para ninguém ouvir, sentir sede e fome arrastando o esqueleto no pó sem cheirar. Quando se está diante do quadro da própria realidade não adianta disfarçar nem usando óculos escuro.

Disse para mim mesmo: não quero mais andar na contra mão.

Quando você pega o trem de volta ou retorna mais rápido pelo metrô linha 743, é um deus nos acuda, porque você vai parar na panela do diabo.

Aprendi então que não devemos deixar uma mosca na sopa encucar nossa cabeça, nem sentir medo de amar. Ser feliz não é desfrutar das regalias dos sentidos físicos em profusão, porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo, hoje eu sei.

Não dá pra ser um caubói fora da lei ou um carimbador maluco por tanto tempo, nem viver iludido por um ouro de tolo. O negócio é refletir que todos nascemos há dez mil anos atrás. Não dá pra ficar reclamando sem refletir.

Não tá com nada gozar cinco minutos e se arrepender por uma eternidade; isto é utopia démodé. O certo é corrigir-se dentro da lei. Se você se completa, será feliz. Mas saiba que Deus é parte de você e não pode ficar de fora.

Na vida, você não deve trocar a cartilha do certo pelo dicionário do apelo e da imprudência.

Agora acabou, o barato é ser careta. Desejo recomeçar, começando por baixo.

A sociedade alternativa, não é fazer o que quer, é ser responsável pelo que fizer.

Deus continuará o tudo na cabeça do crente e o nada na cabeça do ateu, mas, o importante é que Ele é o carpinteiro do Universo.

Agradeço o carinho dos amigos e digo mais uma vez: abra-te sésamo, o novo Raul está em gestação.

Paz a todos!

Raul Santos Seixas”

Livro “Músicas Espirituais, como acontecem” – Jorge Augusto Gonçalves dos Reis